Primavera 100 - RODERICK FLORES
O 18 de Agosto de 1984 era um belo dia.
Os escuteiros do Instituto Dom Bosco de Mandaluyong, nas Filipinas, aproveitavam as férias da Assunção para passar três dias junto ao mar. Porém, de repente, a tragédia: duas crianças foram arrastadas pela corrente marítima. RODERICK FLORES (Erick, para os amigos), por ser dos mais velhos (tinha 15 anos), atirou-se à água por duas vezes. Conseguiu salvar os dois rapazes mas, esgotado, foi vencido por uma onda que o afastou fatalmente da praia. Seu corpo seria reencontrado sete dias depois.
Tal ato foi qualificado de heroico, mas no seu funeral, muitos preferiram falar em santidade. Na homilia, o padre Panfilo – futuro bispo na Papua-Nova-Guiné –, declarou: “Honestamente, posso dizer que nos oito anos do meu reitorado, ninguém superou a generosidade e bondade de Roderick Flores.”
Ninguém o contradisse, pois o adolescente era estimado de todos.
Já criança, Roderick distinguia-se pelo gosto da solidão: amava retirar-se para ler – a sua paixão – ou para pensar, como dizia. Partilhava de bom grado tudo quanto tinha com as outras crianças, nomeadamente as mais pobres. Era um jovem do seu tempo, bem consigo próprio e com os outros. Prosseguiu os estudos em eletrónica. Admirado pelos colegas era frequentemente escolhido por eles como seu representante. Aluno aplicado era também,um desportista apaixonado por diversas modalidades, sendo um exímio nadador.
Se gostava de solidão, isso não o impedia de ser muito social. Com os amigos realizava diversas caminhadas; comprometido no escutismo, fazia igualmente parte de um grupo de jovens denominado 430 SLC, tal como o modelo de luxo da altura da Mercedes: queriam estar sempre no topo em tudo. Isso correspondia plenamente ao seu anseio de excelência.
Como emanava uma autoridade natural, uma palavra sua bastava para restabelecer a ordem nos grupos de que fazia parte, fossem escolares, lúdicos ou desportivos. Todos viam nele um artesão de paz.
Essas qualidades bastavam para fazer um santo?
Na verdade, toda a existência de Roderick alimentou-se de uma vida sacramental intensa. Comungava diariamente e, com frequência aproximava-se do sacramento da reconciliação: “Quero aperfeiçoar-me entre cada confissão. Ser melhor que na anterior. A confissão não é uma lavagem, uma limpeza da alma; é uma escada de perfeição”. Como o jovem santo Domingos Sávio, tinha adquirido uma maturidade espiritual. Como dizia Dom Bosco, o santo fundador da obra salesiana: “Dai-me um rapaz que se confesse e comungue regularmente e farei dele um santo.”
Rezar e agir. Para além das diversas atividades já referidas, inscreveu-se no clube de Ação social, juntamente com a sua amiga Marcisa Suclan. Juntos, visitavam as pessoas idosas e os doentes.
Por isso, no dizer do Pe. Panfilo, “o ato heroico de se atirar à água para salvar os seus amigos foi apenas o ponto culminante de uma sucessão de inumeráveis gestos de altruísmo cumpridos quotidianamente. É um herói porque se impôs a disciplina de servir, amar, ser generoso.” Como conclusão, disse o padre, que também era seu formador e confessor: “Viveu apenas 15 anos, mas viveu plenamente a sua vida. Não foi para Deus com as mãos vazias; aproximou-O com a pureza do seu coração, as mãos transbordantes de amor, a alma agradável ao Senhor. Deus amava-o porque era bom, porque era generoso e puro…”
O túmulo de Roderick passou a ser visitado por numerosos fiéis que recorrem à sua intercessão. Um monumento em sua memória foi erguido no Instituto Dom Bosco.
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