Primavera 79 - MARIA FELÍCIA G. ECHEVARRIA ("Chiquitunga")
MARIA FELICIA GUGGIARI ECHEVARRIA, também conhecida sob o nome “Chiquitunga” nasce no Paraguai em 1925. Vive a sua infância e juventude perturbadas pelos conflitos bélicos, primeiramente com a vizinha Bolívia e, mais tarde, com uma guerra civil. Seu pai, politicamente implicado, vê-se obrigado a exilar-se várias vezes, deixando a esposa e seus sete filhos. Daí que a formação intelectual e religiosa de Maria Felícia fiquem para segundo plano.
É já adolescente que trava conhecimento com a Ação Católica, recentemente instituída no país. Pela oração e retiros promovidos pelo movimento, ela encontra-se com a pessoa de Jesus que se torna o ideal da sua vida. Contrária às “meias-medidas”, decide consagrar-se-Lhe através de um voto privado de virgindade. Em sinal disso, passa a vestir de branco e de forma simples. Essa aparência facilitar-lhe-á aproximar-se dos pobres a quem ela passa a visitar, assim como os doentes. É com generosidade que se dedica ao apostolado junto das crianças que ela prepara para os sacramentos. Ela própria é um exemplo, comungando diariamente.
Já em Asunción, a capital, Maria Felícia prossegue o seu programa de catequese e solidariedade junto de todos, independentemente da sensibilidade religiosa ou política. Todos são seus irmãos, a quem deve servir. No seio da sua família tem a preocupação de fomentar um espírito de paz e alegria através do sorriso permanente, amabilidade e disponibilidade. Todas essas virtudes são frutos da fé, esperança caridade que ela estima como dons gratuitos de Deus.
É pela Ação Católica que conhece Sauá, um jovem estudante de medicina. Uma simpatia recíproca nasce entre eles, partilhando os mesmos ideais, as mesmas aspirações à santidade. Juntos visitam os pobres dos bairros problemáticos da periferia, onde se encontram os maiores abandonos e misérias. Ao longo dos meses, a amizade dos dois jovens evolui em sentimentos mais fortes. Serenamente, questionam-se: O que quererá Deus de cada um de nós? Após um sério discernimento, Sauá sente-se chamado ao sacerdócio. Maria percebe que tem de se afastar. Juntos, diante do Coração Imaculado de Maria, pedem à Virgem que apresente a Deus o seu “pequeno sacrifício”. Maria decide então, também ela, consagrar-se totalmente a Deus, a fim de apoiar pela oração e pela sua doação a vocação de Sauá: “Estou apaixonada por Sauá, mas é Jesus que eu amo… Obtive de Deus tudo quanto sonhei: conhecer o amor, para fazer dele uma oferta a Jesus.”
Durante um retiro, em Janeiro de 1954, Maria compreende que é chamada para o Carmelo. É no dia 2 de Fevereiro que ingressa no convento da capital. É recebida com muito carinho e as suas primeiras semanas são vividas em plena alegria. Porém, após algum tempo, enfrenta a noite, a tempestade das dúvidas. A oração não a sossega nem lhe traz sabor. É a crise, a provação do espírito. Como Jesus, no Getsémani, entrega-se: “A tua vontade e não a minha!” Sabe que pode desistir – ainda é simplesmente postulante – mas decide permanecer, pelos sacerdotes por quem quer rezar e, sobretudo, por Jesus. Mais do que nunca, e de forma exclusiva, entrega-se a Jesus, a quem escreve num diário e pelo qual revela a sua maturidade interior, o seu progresso na via da santidade.
“Sim, tudo Te ofereço Senhor,
tudo quanto há em mim:
as alegrias da minha alma,
as agonias sem fim.
Tudo Te ofereço, Senhor:
meus trabalhos, meus pesares,
as notas dos meus cantares
que continuo a elevar para Ti.
Tudo quanto há em mim,
tudo Te ofereço Senhor,
para eu seja o que Tu quiseres, meu Deus.
Toda inteira e sem reserva,
faz-me subir para que esteja sempre contigo,
ainda que me custe «morrer».”
Alguns dias antes da sua tomada de hábito, a paz regressa, definitiva, plena. O dia 14 de Agosto de 1955, é a grande festa, assumindo o nome religioso de Maria Felícia de Jesus Sacramentado. Escolhe por lema de vida “Alegria – Caridade – Serviço”. O seu quotidiano desenrola-se, doravante, na simplicidade, aspirando unicamente amar, na oração e na oferta de si mesma. Dedica-se às suas irmãs com delicadeza, os pobres a quem dedica o seu trabalho manual, os sacerdotes por quem oferece sacrifícios. Não esquece Sauá, a quem assiste pela oração e entrega silenciosa. Maria irradia de forma luminosa e transparente o amor.
Em Janeiro de 1959, no quinto aniversário da sua vocação, Maria cai gravemente doente, atingida por uma hepatite fulgurante. Hospitalizada, sabe-se perdida, mas acolhe essa fatalidade na serenidade. Obtém licença para regressar ao Carmelo, esforçando-se por participar na vida da comunidade.
Exausta, falece na madrugada do dia 28 de Abril de 1959.
Foi beatificada a 22 de fevereiro de 2002, pelo papa Bento XVI.
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