Primavera 73 - EMIL JOSEPH KAPAUN
É ao seu pároco que EMIL JOSEPH KAPAUN deve a oportunidade de ter sido ordenado padre, tal como sempre desejara. Seus pais, modestos camponeses de origem checa estabelecidos no Kansas, nos Estados Unidos, não tinham meios para financiar os seus estudos. Contudo, o jovem Emil recebeu deles uma fé profunda.
Ainda criança, Emil “brincava” à missa, imitando o P. Sklenar. Este, não duvidando da vocação do jovem rapaz, compromete-se em subsidiar-lhe os estudos. O adolescente, de forte carácter, generoso e atento aos outros, alcança a admiração unânime de todos, professores e companheiros, não apenas pelos seus excelentes resultados como também pela sua retidão, exemplaridade e alegria espontânea. O P. Sklenar convence o bispo de o aceitar no Seminário de Teologia.
Emil é ordenado sacerdote em Junho de 1940, com 24 anos. Nomeado vigário do seu próprio pároco, recebe também a capelania militar da base aérea de Herington. Em 1944, o P. Kapaun é transferido para outra base militar onde assiste 19 mil soldados, homens e mulheres numa altura particularmente delicada: os Estados Unidos estão na fase mais probante da guerra.
Em Abril de 1945, o P. Kapaun é enviado para a frente de combate no pacífico, onde as tropas americanas enfrentam as últimas batalhas contra o Japão. De jeep ou de avião, percorre mais de dois mil quilómetros, sob tiro inimigo, para assegurar a celebração da eucaristia junto dos soldados mobilizados nas diversas frentes. Tem, no entanto, a alegria de contactar os missionários presentes naquelas regiões, admirando a sua abnegação e fé. Junto deles aprofunda a sua intimidade com Deus. Kapaun decide ajudá-los no serviço aos pobres, partilhando com eles o seu soldo e associando os seus homens na construção de uma igreja e de uma escola.
Desmobilizado em Maio de 1946, regressa ao Kansas. Após uma breve estadia na universidade católica de Washington, para formação de ensino é, novamente, chamado pelo exército. A situação na Ásia tornou-se instável. Assim, em 1950, Kapaun é afetado à 1ª divisão do 8º regimento de cavalaria, estacionado na Coreia do Sul, para resistir à ameaça do vizinho do norte. Durante cinco meses encontra-se em plena frente de combate, distinguindo-se pela sua bravura e incansável apoio aos seus homens. Consola e reconforta os feridos. Assiste os moribundos. A todos leva a eucaristia, a reconciliação e, por vezes, o batismo. Desprezando o perigo, arrisca frequentemente a vida para resgatar soldados imobilizados pelas feridas. A sua heroica coragem permite-lhe ser condecorado com a Estrela de bronze.
Mas em Novembro, ao tentar salvar o sargento Miller, é preso pelo inimigo. Os prisioneiros são então obrigados a caminhar até ao campo de Pyotkong, em plena Coreia do Norte. Este será o seu último campo de apostolado.
Pyotkong reúne mais de 4 mil prisioneiros de guerra, vivendo em condições deploráveis: subalimentados, despojados de tudo, sujeitos às humilhações dos seus algozes, os homens perdem todas as referências, humanas e morais.
No meio deste inferno, Emil Kapaun assume como prioridade devolver alguma dignidade aos seus companheiros de infortúnio. Começa por partilhar parte da sua magra ração com os mais fracos. Não hesita em passar por baixo da vedação de arame farpado para roubar batatas nos campos vizinhos ou sacos de arroz. Primeiro surpresos e impressionados pela sua coragem, os prisioneiros passam a admirar o seu colega sacerdote. Chamam-no de “Irmão Dimas”, nome dado ao bom ladrão, crucificado com Jesus. Em algumas semanas consegue resolver o problema da alimentação. Passa a lavar a sua própria roupa incentivando os companheiros a fazer o mesmo, cuidando da sua aparência e dignidade. O Pe. Kapaun torna-se depressa muito popular. Era o seu herói e muitos soldados, pelo seu exemplo, tornaram-se bons católicos.
Kapaun não esquece que é padre. No início da detenção reunia alguns crentes, rezando e cantando com eles. Confessa os que o desejam. Depois, junto a um crucifixo que ele esculpiu, celebra discretas paraliturgias (contra a proibição decretada), rezando o rosário ou a Via Sacra. Pouco a pouco, a vida espiritual renasce no campo. As rixas rareiam. Todos o respeitam por terem a sensação de estar perante um homem excecional. Ninguém, porém, suspeita que Emil está exausto, permanecendo de pé a grande custo. A marcha forçada até ao campo e as noites sem dormir minaram irremediavelmente a sua saúde.
Na Páscoa de 1951, o P. Kapaun organiza uma liturgia festiva, num canto discreto do campo. Todos ficam perturbados com o seu esforço e coragem. No domingo seguinte já não consegue falar, arrasta-se… e cai desfalecido. Morre serenamente no dia 23 de Maio de 1951. O seu organismo desfeito sucumbiu a uma pneumonia.
Após a guerra, um dos companheiros rendeu-lhe a seguinte homenagem: “Em certo sentido, todos somos beneficiário da vida do padre Kapaun. Ele deixou-nos um perturbador exemplo de dedicação, conforme ao nosso dever. Transmitiu-nos um espírito de tolerância e compreensão. Partilhou connosco a sua intrépida bravura, mistura de coragem física e grandeza de alma… mostrou-nos que o maior inimigo da nossa pátria é a indiferença para com Deus e a nossa impiedade…”
Numerosos testemunhos atestarão a sua profunda humildade, a sua oração contínua e a sua abnegação. Em 2001, na sua cidade natal, um monumento foi erigido em sua honra, um dos mais heroicos e condecorados capelães militares americanos. A causa da sua beatificação foi, entretanto, introduzida recentemente, tendo sido declarado Servo de Deus.
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