Primavera 69 - PIER GIORGIO FRASSATI
PIER GIORGIO FRASSATI foi chamado de “homem das oito bem-aventuranças” pelo papa João Paulo II, aquando da sua beatificação, em 1989.
Nascido em Turim, a 6 de abril de 1901, aparentava ser um jovem comum, extrovertido, expansivo, apelidado pelos amigos de “Robespierre” por desejar uma radical revolução social no seu país. Gostava de desporto, teatro e música. Apaixonado por arte, declamava de cor os versos de Dante e frequentava museus e a ópera. Desfrutava plenamente da vida.
Mas algo bem mais marcante distinguiu este jovem.
Filho do rico fundador do jornal La Stampa, Alfredo Frassati, e da talentosa pintora Adelaide Ametis, Pier Giorgio cresceu num ambiente onde a religião era meramente formal. Seu pai era agnóstico e sua mãe, embora crente, era avessa a devoções excessivas. No entanto, o filho cedo se sentiu atraído por Deus. Adolescente, tornou-se membro ativo de vários movimentos paroquiais, como a Ação Católica, Apostolado da Oração, Liga Eucarística e Conferência de São Vicente de Paulo, ingressando mais tarde na Ordem Terceira dos Dominicanos. Através desses grupos, desenvolveu um apurado compromisso com a caridade.
Não se identificando com a sua classe social, o jovem Pier Giorgio decidiu estudar Engenharia mecânica, com especialização em mineração, com o intuito de se aproximar dos mineiros que, na época, eram extremamente explorados.
Seu pai Alfredo passou a considerar seu filho como um “homem inútil”, acusando-o de “andar à toa”, frequentando pessoas que não eram da sua classe. Pier Giorgio, porém, não lhe fazia caso. Sempre sorridente, dedicava tempo e sua mesada aos mais vulneráveis da sociedade: operários, pobres, pessoas com problemas judiciais, famílias divididas, filhos ilegítimos ou outros excluídos. A todos prestava atenção e auxílio, visitando-os com frequência, levando alimentos, roupas, lenha, carvão, móveis…
Implicou-se na política, não por prazer militante, mas para melhor defender os pobres e seus interesses. Opôs-se tanto ao comunismo quanto ao crescente fascismo. Rejeitava a “revolução” de Mussolini. “Sou cristão e nossa revolução é o amor!”
Mas a inspiração para toda essa envolvência social encontrou-a na fé. Quando um amigo lhe perguntou qual a razão de passar tanto tempo com os pobres, Pier respondeu-lhe: “Jesus visita-me todos os dias na comunhão e eu devolvo-Lhe modestamente a visita nos pobres”. “O fundamento da fé – dizia ele – é o amor, sem o qual a religião desmorona, porque não somos verdadeiros católicos quando não conformamos a nossa vida com os dois mandamentos de Cristo que constituem o essencial da fé católica: amar a Deus com todas as forças e ao próximo, quer dizer, todo o homem, como a si mesmo”. Sua tenacidade e persistência são alimentadas na eucaristia diária, na oração e na meditação da Palavra de Deus que ele lê em todos os lugares e circunstâncias.
O compromisso social do filho alvoroçava o pai, enquanto tanta devoção afligia a mãe. Pier Giorgio seguia feliz e convicto. Seu lema de vida era “Para o alto!”
No final de sua vida, formou com amigos a “Sociedade de Tipos Estranhos”. Faziam excursões, alpinismo e outras atividades lúdicas. Mas, sobretudo, cultivavam a amizade em Cristo, pela oração e pela fé.
Em final de junho de 1935, estando a família preocupada com a saúde da avó Linda, ninguém se apercebeu que também Pier Giorgio se encontrava mal. Acamou-se, não podendo sequer participar no funeral da sua avó que, entretanto, falecera. Acometido por uma meningite fulminante, viria a falecer no dia 4 de julho, com apenas 24 anos.
Milhares de pessoas marcaram presença nas suas exéquias, sobretudo os pobres de Turim, surpreendendo seu pai. “Não reconheço meu filho!”, murmurou ele, perante tal multidão. O sofrimento e o vazio provocado pela morte do filho, levaram o pai a aproximar-se da fé, convertendo-se radicalmente. Muitos consideram esse facto o primeiro milagre de Pier Giorgio Frassati, entretanto beatificado.
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