Primavera 64 - MARCEL VAN
“Nada me pode retirar a arma do Amor… Decido ir, para que haja alguém que ame a Deus no meio dos comunistas… A minha morte tornar-se-á vida para muitos. A minha morte marcará o início da paz para o Vietname.”
Assim falava um jovem redentorista vietnamita, Joaquim Nguyen Tan Van, mais conhecido sob o nome religioso de MARCEL VAN. Ofereceu-se como voluntário para Hanoi, capital do norte do país que ficara sob regime comunista, quando todos fugiam de lá.
Sua família era profundamente cristã. Nascido a 15 de março de 1928, e dotado de uma inteligência prodigiosa, passou uma infância feliz, apesar da dureza da vida. Data marcante foi a sua primeira comunhão: “Num instante, tornei-me como uma pequena gota de água perdida no meio do oceano. Agora, só resta Jesus e eu; e eu apenas sou o pequeno nada de Jesus”. Nessa altura, somente com 6 anos, nasce-lhe um desejo: “Queria tornar-me padre para anunciar a Boa Nova aos não crentes. Tomei a resolução de ser uma flor sem fruto a fim de espelhar perfume toda a minha vida."
Todavia, sua existência está prestes a viver um tormentoso período.
Aos 7 anos, pela extrema pobreza da sua família, é levado para uma “Casa de Deus”, instituição criada no final do século XVIII pelas Missões Estrangeiras para instruir os fiéis, tendo como fim um possível futuro ingresso no seminário. Porém, o jovem Van, por ser ainda muito novo e pobre, acaba por ser explorado pelos rapazes mais velhos. A sua fé profunda indispõe os outros. Sofre represálias e maus tratos físicos e psicológicos. Entristecido por esse ambiente deplorável, resolve fugir.
Vagueia, é acolhido, trabalha, mas não é pago, ameaçado, procuram vendê-lo com escravo, escapa novamente… Passa pela terrível escola da humilhação e da mendicidade.
No final de 1940, Van confessa-se. É-lhe dito: “Se Deus te enviou a Cruz, é sinal que Ele te escolheu”. Na missa de Natal, experimenta uma alegria intensa: “Encontrei o tesouro mais precioso da minha vida… Porque razão os meus sofrimentos me parecem tão belos? (…) Já não tinha medo de sofrer. Deus confiava-me uma missão: a de mudar o sofrimento em felicidade…”
Finalmente, entra no seminário menor. É nessa altura que fará a descoberta que muda a sua vida. Encontra e lê “História de uma alma” de Stª Teresa do Menino Jesus. Tem 14 anos. “Compreendi que Deus é Amor e que o Amor vive de todas as formas de Amor. Posso, pois, santificar-me através das pequenas ações… um sorriso, uma palavra ou um olhar desde que tudo seja feito por Amor. Que felicidade! Já não receio tornar-me santo. Encontrei, por fim, o meu caminho de santidade”.
É uma união espiritual extraordinária que passa a viver com a jovem santa carmelita, de quem recebe a graça de ouvir a sua voz e que o trata por “irmãozinho”. Confia-lhe o segredo da sua experiência: “Não temas jamais a Deus… Ele só sabe amar…”
Entretanto, seu desejo orienta-se para a Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas). Ao saber disso, o responsável do seminário expulsa-o.
Depois de uma série de peripécias e desventuras, Van não será padre, mas tornou-se religioso redentorista.
Rebenta, entretanto, a guerra entre o Vietname e a França, desembocando na divisão do país. É nessa ocasião que Marcel Van opta por ser testemunha de Jesus, desafiando o poder comunista do norte. Consequentemente, é preso em 1955.
Com apenas 27 anos, começa a sua agonia.
Por não renegar a sua fé é acusado de propaganda reacionária, sentenciado a 15 anos num campo de reeducação. Porém, nem assim vacila: “Sou vítima do Amor e o Amor é toda a minha felicidade”. Entre as centenas de detidos ele é a luz e o reconforto de todos: “É bem necessário que me dê aos outros… Deus fez-me saber que cumpro a sua vontade”.
Por não apresentar evolução na sua “reeducação”, as medidas endurecem-se contra ele. É mantido isolado, acorrentado no escuro, não tem direito a visitas, nem correio.
Morre esgotado, a 10 de Julho de 1959. Tem 31 anos.
A sua causa de beatificação foi introduzida como confessor da fé.
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