Primavera 57 - JEAN PLOUSSARD
Em 1964, quando os escritos de JEAN PLOUSSARD são publicados, sob o nome de “Carnet de route” (Diário de estrada), estes ganham imediato relevo na história da literatura espiritual do século XX.
A juventude de Jean, nascido em 1928, é marcada pelo escutismo, pela meditação do Evangelho e a atração pelas missões. Tudo isso levá-lo-á a interrogar-se sobre a vocação. Sente o apelo do matrimónio e de Deus. Namora, mas sua reflexão leva-o a decidir-se por Deus. Aquela que era sua noiva, Rose, respeita a sua opção e ser-lhe-á fiel, mantendo-se celibatária. Jean, com 19 anos, ingressa na congregação dos Redemptoristas.
Na sua caminhada religiosa descobre os escritos de Carlos de Foucauld e de Santa Teresa do Menino Jesus que influenciarão o resto da sua vida. Debate-se, todavia ainda com muitas dúvidas. Reflete sobre a graça e as exigências do celibato, ao mesmo tempo que se deixa cativar pela vida contemplativa dos monges e da experiência inovadora e ousada dos “padres-operários”. Quereria ser tudo, mas encontra o equilíbrio na fórmula redemptorista: contemplativo em casa e apóstolo no exterior. Compromete-se definitivamente.
A sua missão foi definida: é enviado para o Níger, onde chega no natal de 1955.
Aí encontra muito campo de trabalho, tanto na cidade como nas missões dos arredores. Mas a adaptação é difícil. Num país maioritariamente muçulmano e profundamente africano, Jean experimenta a solidão. Sem querer ser infiel à sua vocação sacerdotal é tentado pelo casamento com uma jovem mãe celibatária: desposar a África, desposando uma africana. Essa crise será longa e difícil.
Um problema de saúde obriga-o a um regresso à França onde recupera, física e espiritualmente. Vence, definitivamente, as suas dúvidas. A fidelidade não se revela na ausência de tentações ou dificuldades, mas na forma como estas se ultrapassam.
De volta ao Níger, tem plena consciência das exigências da sua vocação: equilíbrio entre contemplação e missão. Na paz e na alegria, transforma-se. Nesse contexto, aceita uma nova missão que lhe é proposta: assegurar uma presença cristã entre os tuaregues do norte. É para aí que vai, em Dezembro de 1960, encontrando uma centena de cristãos, mas nenhum deles é nigeriano. “Vim por vós… para ficar convosco… Não estou aqui por alguns anos, mas para aqui viver. E, sobretudo, para aqui morrer. Venho aqui para todo o sempre... Doravante, sou tuaregue.”
Jean toma um novo nome: Yakhia ag Rissa (João de Jesus, no idioma local). Veste-se de azul, como os homens e cobre-se com um véu ao jeito tuaregue. Sobre o peito, uma simples cruz de madeira. Convicto, segue o exemplo de Carlos de Foucauld. Aprende a língua desse povo nómada e adota os seus costumes e modo de vida.
Pastoralmente, funda uma pequena escola, escava poços e semeia hortas. Desperta todas as manhãs às 4h30, faz uma hora de adoração, celebrando depois a eucaristia antes de se lançar na evangelização, pelo exemplo. Por respeito, os tuaregues chamam-no “aneslem” (o crente) e já não “koufour” (pagão), como tratam os brancos.
Vive a alegria perfeita quando vive o seu último retiro, em Dezembro de 1961. Toma a firme resolução de não mais pecar, nem uma só vez…
No dia 7 de Fevereiro seguinte, após a adoração e a eucaristia, dirige-se para a horta. Dá-se conta que uma veia rebentou. Regressa para a capela… mas cai à sua entrada, na areia, vomitando sangue, tal como o tinha escrito no seu diário, oito anos antes:
“Meu Deus… Amo-Te
E quero morrer de amor por Ti,
Morrer, morrer, morrer.
Último jorrar de sangue na boca,
Último espasmo na areia
ou sobre a rocha,
Morrer de amor.”
Transportado de urgência para a capital, morrer a 18 de Fevereiro sem ter retomado consciência. É a consternação geral entre os tuaregues e a jovem comunidade cristã por ele assistida. Seis meses depois, um sacerdote dará continuidade à obra de Jean, Yakhia ag Rissa.
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