PRIMAVERA 38 - Chiara Corbella Petrillo
CHIARA CORBELLA PERTILLO nasce a 9 de janeiro de 1984, em Roma.
Filha de uma família muito religiosa, cresce na fé, num grupo do Renovamento Carismático. Com 18 anos, durante uma peregrinação a Medjugorje, conhece aquele que virá a ser seu marido, Enrico, um jovem romano de 23 anos. Mas o namoro revela-se difícil. Os 6 anos de relação ficarão marcados por ruturas e momentos dolorosos. Será numa caminhada espiritual em Assis, orientada por franciscanos, que a reconciliação ocorrerá, através do pedido em casamento que Enrico lhe dirige. Tal processo preparou-os para o que se seguiu.
O matrimónio é celebrado em Assis, a 21 de setembro de 2008, pelo frei Vito, frade franciscano, que se tornou diretor espiritual do casal. Pouco depois, surge a primeira gravidez. Notícia feliz que as primeiras ecografias vão ensombrar. A criança apresenta anencefalia, uma malformação que não permite sobrevivência. Chiara e Enrico decidem levar a gestação até ao fim. A 10 de junho de 2009 nasce Maria Grazia Letizia, que falece meia hora depois. Tempo suficiente para ser batizada, abraçada e amada pelos pais… perante o espanto dos médicos. O mesmo sucederá ao segundo filho, Davide Giovanni, em 24 de junho de 2010, nascido sem membros inferiores e que resiste menos de uma hora. Seu funeral será vivido como um momento de serenidade e festa. “No nosso casamento – escreve Chiara – o Senhor deu-nos filhos especiais. Pediu-nos que os acompanhássemos somente até ao seu nascimento.”
Como se pode viver tais sentimentos de paz, confiança e fé, em momentos tão dramáticos e dolorosos!? Frei Vito, seu diretor espiritual, explica: “Chiara não se resignou, mas viveu o abandono em Deus, que é uma coisa completamente diferente.” Chiara aprendeu a confiar em Deus, em todas as situações. No seu namoro, aprendera a vencer suas inseguranças e a aceitar-se como era, acolhendo enrico como dom de Deus. Assim faz com estes dois primeiros filhos. Do segundo dirá: “Quem é o Davide? É um pequenino que recebeu de Deus um papel tão grande… o de abater os grandes Golias que estão dentro de nós”, referindo-se à tentação que os pais têm de querer decidir sobre os filhos, de os terem como “propriedade” sua, ou ainda como consolação a perdas anteriores (neste caso, a filha) e até contra a “estatística” da probabilidade que todos têm de ter um filho saudável. Para Chiara, Deus não é um “distribuidor de guloseimas”, mas antes opera maravilhas originais, às vezes altamente desafiantes. Cristiana, amiga e madrinha de casamento, recorda a resposta que Chiara lhe dera à pergunta “como é estar doente?”: “No dia do casamento ofereci toda a minha vida ao Senhor e cada dia digo sim ao que acontece e que aconteceu até ao momento.” Sim, a cruz de chiara não acaba aqui.
Chega nova gravidez. Desta vez sem problemas… para a criança. Uma semana depois de se saber mãe, Chiara descobre uma lesão na língua que teima em não cicatrizar. Diagnóstico: carcinoma na língua, um cancro extremamente raro em pessoas jovens e de hábitos saudáveis como ela. Uma primeira cirurgia é realizada. Mas, a segunda fase implica tratamentos agressivos, não compatíveis com o seu estado de grávida. Chiara e Enrico, indubitavelmente afastam a possibilidade de aborto. Os médicos aconselham então a antecipação do parto do filho, para apressar o cuidado pela mãe. Chiara recusa expor o filho ao mínimo risco. Chiara não era nenhuma fanática. Daniela, amiga e ginecologista que a acompanhou nas suas gravidezes, recorda: “Perante o desafio da decisão, Chiara não escolhia com base no medo, escolhia com base na confiança em Deus.” “Antes de ser nosso filho, é Seu filho.”
Francesco nasce a 30 de maio de 2011. A 3 de junho, iniciam-se a rádio e quimioterapia, mas o cancro já se espalhara de forma irreversível pelos pulmões, fígado, e afetando seu olho direito, que passa a vendar. Durante o primeiro ano, cuida do seu filho. Os últimos tempos são passados em família, com muita dor, mas rodeada de amor e dedicada à oração. Sem reclamações nem lamentos, mas com o olhar fixo em Jesus. Morre a 13 de junho de 2012, aos 28 anos, depois de dizer todos os presentes que os amava.
A fé e a confiança demonstrada por esta jovem são desconcertantes. Como diz sua irmã Elisa, “ela foi excecional a fazer as coisas normais. Soube viver com amor aquilo que o Senhor lhe pedia no momento, na alegria como no sofrimento.” Aplicou a regra dos 3 P’s (Pequenos Passos Possíveis), nos desafios pequenos ou grandes do quotidiano, contra o facilitismo e a inconstância. “Não importa se uma vida é longa ou breve; o que conta é a meta, Quem está à tua espera.” Enrico, seu marido, dá a melhor homenagem, dizendo: “A minha vida com ela é o evangelho que conheço melhor.”
Ao filho, Francesco, Chiara deixou uma carta: “O amor é o centro da nossa vida, porque nascemos de um ato de amor, vivemos para amar e para ser amados, e morremos para conhecer o amor verdadeiro de Deus.”
A 2 de julho de 2018, a diocese de Roma deu abertura à sua causa de beatificação.
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