PRIMAVERA 31 - Gabriel Soh
A 29 de Dezembro de 1960, GABRIEL SOH é abatido a tiro.
Este jovem camaronês, nascido em 1938 é o nono filho do casal Lucas e Madeleine Soh. Eles são uns dos quatro primeiros cristãos da sua aldeia. Muito jovem, é possuído por um profundo desejo que não ousa manifestar: “Entrar no seminário, ser padre um dia… Segurar Cristo, entre as minhas mãos, dá-l’O aos outros… Senhor, se isso for do teu agrado.”
Em casa como na escola, adota uma divisa: “Servir, em lugar dos outros”. Está atento aos seus colegas, sobretudo os mais pequenos. Frequentemente doente e várias vezes repetente não conseguirá terminar a escolaridade. Assim, aos 18 anos, deixa a escola e, como o seminário lhe era inacessível, oferece-se para servir na Missão: “Pelo menos aí poderei ser útil aos sacerdotes e estarei mais próximo do Senhor”.
De facto, aí ajuda à missa todos os dias e desempenha diversos trabalhos: varrer arrumar a cozinha, lavagem da louça, etc… “É preciso fazer tudo com perfeição”. Sabia manter um bom ambiente e apaziguar as discórdias: “É preciso fazer tudo com alegria”.
Quando se apercebia que alguns abusavam de outros, Gabriel protestava: “Podemos pedir ajuda quando temos trabalho em excesso, mas não obrigar os outros a fazer o nosso trabalho! Pelo contrário, somos nós que devemos servir os outros!” Concretizando o que diz, apercebendo-se de que algumas crianças vindas de longe passavam fome, oferece-lhes a sua própria refeição. Para ele, servir é aliviar o trabalho do sacerdote, assumindo isso como sua missão.
Acontece que o seu país entra num período de turbulência, ao reclamar a independência, que ocorrerá em 1960. As Missões são diretamente ameaçadas, sendo os missionários os primeiros visados e qualquer manifestação de fé proibida.
Aproximam-se, entretanto, assassinos profissionais: massacram todos aqueles que não os apoiam. Começam a agredir os sacerdotes da Missão. Gabriel intervém e interpõe-se diante deles: “Atrevem-se a tocar num padre? Têm de passar primeiro sobre o meu cadáver!”. Agarra o soldado e imobiliza-lhe a arma. Então todos se precipitam sobre ele. Se insistir, Gabriel sabe o que o espera, mas não desiste: “Morrer pelos sacerdotes não é morrer, é simplesmente adormecer”. Sem tremer, pensa no padre que corre perigo.
Soa um tiro. Gabriel cai… aos 21 anos.
No seu funeral, será recordada a frase evangélica: “Não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles que amamos”.
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